Quando entro para
dar aula em uma turma nova – dou aulas eventuais no período da tarde – sempre escuto
as três perguntas básicas sobre a minha profissão. “Você sempre quis ser professora?”, “Você brincava muito de escolinha
quando era criança?” e “Por que você
quis ser professora?”. Então hoje irei falar um pouco sobre a minha
profissão e porque a escolhi para ser minha.
Eu nunca quis ser
professora, confesso. Mas sim, escolinha era uma das minhas brincadeiras
favoritas e eu não aceitava ser a aluna. E meio que fui pressionada a cursar
uma faculdade, mas isso eu explico mais para baixo.
Quando eu estava no
segundo colegial tive pelo menos três redações concorrendo a prêmios pela
escola, mesmo contra a minha vontade. Eu nunca gostei de divulgar o que
escrevia e principalmente na escola – um ambiente bem opressivo para alguém
como eu – então quando era obrigada a entregar uma redação ou algo do tipo eu
surtava bastante. A última vez que isso aconteceu, eu fui à última a entregar a
redação e me lembro de ter pedido para a professora de Língua Portuguesa não coloca-la
para concorrer. No final da aula, os alunos que haviam entregado as redações e
tinham sido selecionados, iriam para a entrega de prêmios fora da escola.
Acabei indo para casa com a certeza de meu nome não estava lá, mas uma mensagem
uma hora depois da melhor amiga onde estava escrito algo como “Parabéns, sua redação foi premiada e
adivinha? Você não está aqui”. Pronto! A primeira briga com a professora
estava feita. Na manhã seguinte peguei os prêmios com a amiga (um boné, uma
caneta e um chaveiro), que para alguém que não esperava ganhar nada foi um
choque e tanto. Conversei com a professora e ela justificou que a minha redação
estava muito boa para não estar entre as selecionadas e que eu deveria
agradecê-la de alguma forma. É, não. Essa foi a primeira bola fora do ano. Ela
fora minha professora no primeiro colegial também e eu não gostava muito das
aulas dela, então meio que a birra já estava presente. Depois de um tempo essa
mesma professora me humilhou na frente da sala toda por eu não conseguir
apresentar um trabalho na frente da minha classe. Eu fazia técnico em turismo e
a mesma professora de Língua Portuguesa, lecionava uma aula técnica que eu não
me lembro do nome. Me senti um lixo. Cheguei em casa me achando um nada e como
minhas notas em Psicologia, Biologia e Geografia não estavam bem das pernas
pedi aos meus pais que me tirassem da escola. Foi um Deus nos acuda e fui parar
no noturno. Eu que precisava da luz do sol para sobreviver na escola, estava
agora em companhia da lua em uma escola que não trazia boas lembranças. Minha
mãe me levou no primeiro dia de aula depois das férias de julho. Super nervosa
me sentindo novamente a garota novata. Uma porcaria. Mas ali era a minha chance
de recomeçar sendo alguém melhor. Juntei-me num grupinho de meninas que haviam
estudado comigo na oitava série, mas não me sentia parte do grupo. Acabei
trocando de grupo logo a primeira bronca por falar demais – um problema desde
que me entendo por aluna – enfim, fiz amizade com outras meninas que haviam
estudado comigo na mesma época das outras, mas que pelo menos gostavam de
estudar. Precisava ir alguns dias da semana cumprir minhas dependências de
matéria e tive uma professora muito legal e paciente comigo que os outros
alunos achavam chata, porque ela cobrava perfeição nas suas atividades. Ela me
incentivava a não desistir e mesmo com toda a dificuldade. Entendam que a
escola que eu estudava tinha começado a matéria ao contrário e toda a matéria
do semestre da nova escola eu já havia estudado. Então, estava um semestre
adiantada e atrasada ao mesmo tempo. Tinha que correr atrás do prejuízo. Não
foi fácil, principalmente com o professor de biologia me fazendo desenhar mitocôndrias
a mão e ainda entregar seus trabalhos com no mínimo cinco páginas. E as aulas
de educação física no meio da tarde. Delícia. Foi uma experiência que eu
precisava passar e depois desses meses fui uma pessoa bem diferente do que eu
era no quesito estudo. Alguém bem melhor. Mas tanto os professores bons, quanto
os ruins me fizeram balancear os prós e contras da profissão. Porém, eu estava
decidida a cursar Jornalismo.
Sim, eu queria
muito ser jornalista e trabalhar em uma revista adolescente. Ah, qual é eu
tinha 16 anos. Terceiro colegial, a tortura de pré-vestibular, as leituras
obrigatórias. O primeiro emprego e o cursinho no período da noite. E me vem à
bomba: Lula anuncia que para ser jornalista não precisa de diploma. Oi? Como é?
A profissão dos sonhos ruim diante dos meus olhos e o conto de fadas se
transformou em um pesadelo. Perdi todas as inscrições do vestibular por causa
disso. Não conseguia me ver em nenhum outro curso que não fosse Jornalismo. Já
tinha desistido de começar a faculdade com dezoito anos e então meu pai me
inscreve em Pedagogia para uma cidade próxima a nossa. Fui, fiz a prova de
qualquer jeito. Não queria estudar ali. Não queria o curso. Depois de muita insistência
sobre não ficar parada um ano estudando para um curso que eu poderia não gostar
me rendi. Procurei uma faculdade que eu pudesse pagar com meu salário de
professora de informática em um projeto da Prefeitura de Campinas, que me
pagava R$400 + vale transporte. Achei uma que se encaixava nesse valor, fiz a
prova e passei em oitavo lugar. Não fui à primeira, mas estava entre os dez
melhores. Já estava de bom tamanho para mim. Depois de ter passado e feito à
matrícula é que fui procurar mais informações sobre o curso. Ainda estava em
dúvida se iria gostar de cursá-la, mas me lembrei dos professores excelentes
que tive até aquele momento. Pensei também nos professores que fizeram bullying
comigo desde o ensino fundamental I e de todas as vezes que me senti oprimida
pela pessoa que deveria me apoiar. Depois de pesar isso na balança, decidi que
eu faria sim Pedagogia e tentaria de todos os jeitos ser uma professora que
apoiasse meu aluno ao invés de oprimi-lo. Que não iria passar a mão na cabeça
deles, mas que iria ajuda-los a seguir em frente e enfrentar as dificuldades
como a professora de Geografia do Ensino Médio fez comigo.
Sim, essa é a
história que conto aos meus alunos de Ensino Fundamental I quando entro na sala
deles pela primeira vez, seja como professora eventual ou não. Eles precisam
saber que não estou brincando ali. E que acima de tudo amo o que eu faço. O
mais legal disso tudo são as discussões sobre os assuntos, o bullying é o mais
citado. Mas isso já é história para outro texto!
Obrigada para quem
leu até aqui. Sério, sei que escrevo demais! Se leu até o final, não esqueça de
deixar seu comentário aqui para que eu saiba. Espero que tenha gostado. Nos vemos
no próximo post!
Acho super válido compartilhar esse tipo de experiência Roberta! Minha filha quer ser professora e tem recebido comentários negativos da parte de um dos seus próprios professores! Sempre tem um mala pra atrapalhar, mas o que vale são aqueles que realmente se importam!
ResponderExcluirO blog está uma graça :)
Beijos... Elis Culceag. * Arquivo Passional *
Oi Elis, tudo bom?
ExcluirIrei sempre postar coisas relacionadas a profissão de professora, que é uma profissão tão desvalorizada, inclusive pelos próprios profissionais da área. É como se eles tivessem esquecido de como chegaram aonde estão. Ainda recebo comentários negativos, até da própria família. Mas no final o que vale a pena é saber que estou fazendo a diferença na vida dos meus alunos, porque são eles quem mais importam. Sempre terá alguém que tentará te fazer desistir, mas foi como você disse, são os que fazem a diferença que valem a pena!
Obrigada pelo carinho, de verdade! Obrigada pela visita, volte sempre! Peça para a sua filha me adicionar se quiser conversar sobre o assunto :}
Beijos <3
Oi, tudo bem?
ResponderExcluirGostei muito da sua postagem, bem interessante! Tenho vontade de ser professora de história pois amo essa matéria e meus amigos dizem que eu ensino bem haha.
Existem mesmo alguns professores que nos desanimam, mas o bom é que nem todos são assim!
Sucesso pra você e pro blog!
Beijos... Samantha Culceag.
Só pra Menores
Oi Samantha, tudo bem sim e você?!
ExcluirMuito obrigada pelo comentário, fico feliz que tenha gostado e que ela tenha sido útil de algum modo. A criei com o intuito de inspirar de algum jeito quem tem dúvidas sobre a profissão, tentarei fazer uma espécie de diário da profissão. Já tinha esse projeto engavetado há muito tempo, mas não tinha dado certo antes. Eu sou o tipo de pessoa que incentiva, não desencorajo não. A minha felicidade é saber que os professores que nos desanimam existem em menor quantidade, enquanto os que nos incentivam são bem mais, rs. Muito obrigada pelo carinho! Obrigada pela visita, volte sempre!
Beijos :*